quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A inflação dos Dan no passado, por Stanley Pranin

No outro dia eu encontrei um artigo interessante na edição 33 do "Aikido Shimbun", publicada em março de 1962. O Aikikai Hombu Dojo começou a publicar este boletim de quatro páginas em 1959. O boletim tem aparecido de forma contínua até hoje, uma publicação invejável de mais de 52 anos!


O que chamou minha atenção foi o anúncio da listagem de promoções de dan concedido em 15 de janeiro do mesmo ano na celebração anual Kagami Biraki. Uma série de nomes famosos são mencionados na referida lista, alguns deles estudantes pré-guerra do Fundador do Aikido Morihei Ueshiba, enquanto outros começaram a treinar após a Segunda Guerra Mundial.


Eu selecionei alguns nomes de pessoas que se tornaram proeminentes e acrescentei o ano de início nos treinos, por meio de referência.



8º dan
Rinjiro Shirata (1933)
Hajime Iwata (1930)
Takaaki (Shigemi) Yonekawa (1932)


7º dan
Morihiro Saito (1946: 16 anos para o 7º dan)


6º dan
Zenzaburo Akazawa (1933)
Shoji Nishio (1951: 11 anos para o 6º dan)
Nobuyoshi Tamura (1953: 9 anos para o 6º dan)


5º dan
Hiroshi Kato (1954: 8 anos para 5º dan)
Hiroshi Isoyama (1949: 13 anos para 5º dan)


4º dan
Yoshio Kuroiwa (c. 1954: 8  anos para 4º dan)


3º dan
Masatake Fujita (1956: 5 anos para 3º dan)
Koretoshi Maruyama (1959: 3 anos para 3º dan)
Katsuaki Asai (1955: 7 anos para 3º dan)


Se você olhar para o número de anos de treinamento, resultando na graduação indicada, você vai encontrar alguns casos em que o progresso das promoções dan foi muito rápido. Por exemplo, três anos para terceiro dan, ou nove anos para 6 dan - os dois casos citados seria considerado uma aberração por padrões de hoje.


Este tipo de avanço rápido, ou "inflação de dan", se quiser, era uma ocorrência comum na década de 1950 e 60. As razões têm a ver com o fato de que o Aikido era uma arte marcial nova e relativamente desconhecida para o público em geral. Um dos meios mais eficazes de promover o Aikido foram as manifestações públicas. Quando Aikido estava sendo demonstrado pelos chamados "especialistas", seria estranho alguém com pouca graduação representando a arte. Mas como o Aikido era novo, não havia ainda muitos profissionais altamente classificado.


Além disso, no caso do Aikikai Hombu Dojo, existia uma espécie de rivalidade com a rápida expansão Yoshinkan Aikido estabelecido por Gozo Shioda. Nos primeiros anos após a guerra, a escola Yoshikan foi mais ativa que a Aikikai, quase adormecida e que ainda tinha famílias remanescentes da guerra que moravam no Hombu Dojo. Como a separação entre o Aikikai e Yoshikan não era tão distinta como hoje, representantes de ambas as escolas, às vezes, apareciam na mesma demonstração. O Yoshikan rapidamente graduou seus professores e os alunos que se destacavam, e a Aikikai seguiu o exemplo para não ficar para trás.


Meu próprio professor, Morihiro Saito disse-me em mais de uma ocasião que ele saltou duas fileiras em seu avanço para o 9 º dan. Havia uma série de outros professores de destaque que experimentou a mesma coisa. O "Aikido Shimbun" é um documento de boa fonte para rastrear esta progressão precoce, através da rankings de conhecidos instrutores.


Como Aikido se estabeleceu ao longo dos anos, de modo geral, as normas tornaram-se mais rigorosas, e hoje não é incomum para ela ter três ou mais anos para atingir 1 dan, e mais alguns anos para cada dan depois.


Se você pensar sobre isso, os instrutores iniciais que foram enviados ao exterior para divulgar o Aikido foram, comparativamente falando, ainda iniciantes na arte. Muitos deles, no entanto, fez um rápido progresso por causa das condições difíceis e desafios enfrentados na criação de dojos e organizações no exterior. Eles podem ter sido promovidos rapidamente no início, mas a suas reputações como especialistas em Aikido, foram construídas através de longos períodos de trabalho duro e extenuante teste de coragem.


Texto retirado do Aikido Journal
Traduzido Livremente por Felipe Leite.
Link: Dan Inflation in the Early Years of Aikido, by Stanley Pranin

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

"Os bons vi sempre passar
no mundo graves tormentos
E para mais me espantar
os maus vi sempre nadar
Em um mar de contentamentos
Tentando alcançar assim
o bem tal mal ordenado
fui mal, mas fui castigado
e assim que só para mim anda o mundo consertado"

...é Camões, tamo junto parceiro.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Aniversário de Paulo Afonso e do Perú

Ontem foi o aniversário da minha cidade natal, Paulo Afonso-BA, também foi a data onde se comemora a independência do Perú, país que gosto muito e tenho uma relação de carinho pelo povo de lá.
Coincidentemente as cores da bandeira de Paulo Afonso são as mesmas do Perú e se você tiver (muita) boa vontade vai achar semelhanças no brasão. Vejam só:


terça-feira, 19 de julho de 2011

Estatísticas sobre praticantes de Aikido


Analisando a lista de praticantes reconhecidos internacionalmente no site da Brazil Aikikai cheguei aos seguintes números aproximados:

37% dos praticantes são 5º kyu (amarela)
24% são 4º Kyu (Roxa)
16% são 3º Kyu (Verde)
9% são 2º Kyu (Azul)
6% são 1º Kyu (Marron)
4% são Shodan
3% são Nidan, Sandan ou Yondan.

Se extrapolarmos esses números, podemos chegar na idéia em que 65% dos Amarelas passam pra Roxa, que desses 67% passam para verde. Da verde para a azul apenas 57%, da azul para marron 70% e dos marrons para shodan 61%. Isso confirma aquela teoria que na verde ocorre o maior número de desistências. Quem passa dessa fase parece conseguir ir mais longe.

Os primeiros registros de exames são de 2003, porém são raros os que possuem histórico completo na lista. Mas ainda sim dá pra ver algumas coisas interessantes.
A média de tempo que um aluno do Sudeste avança no Aikido até a preta é aproximadamente 3,5 à 4 anos. Já aqui no nordeste sobe para em média 6 à 8 anos, a diferença de tempo ocorre principalmente nos kyu iniciais. Da marron pra preta praticamente todos com histórico no site fizeram exame em 1 ou 2 anos. Existem prodígios que passaram da Azul para Shodan num mesmo ano ou de Shodan a Nidan em 1 ano, mas é coisa rarríssima.

Posso inferir então que se 12 alunos começaram a treinar juntos provavelmente 2 chegariam a Shodan numa mesma época.

Esses números tem vários furos, como nomes repetidos por Kyu, falta de históricos de alguns, mais de 1 exame para um mesmo kyu... enfim, não é uma lista saneada, pois acredito que não exista para esse fim. Por isso esses dados servem apenas por curiosidade. Porém posso concluir que treinar e passar por todas as fases no Aikido, além de prazeroso é uma tarefa para poucos. É equivalente a uma universidade, onde a seleção acontece naturalmente e não necessariamente nos exames. Mesmo sabendo que a faixa não transforma o homem, a mudança de graduação serve como um marco para aquele que perseverou nos treinamentos.

Bons treinos a todos!

terça-feira, 17 de maio de 2011

A figura do sensei

Não é difícil encontrar uma organização de Aikido onde o sensei se comporta como uma espécie de senhor feudal. Inclusive existem lugares em que essa filosofia é pregada literalmente, onde devemos ter uma obdiência cega ao camarada que lá se chama sensei. Na verdade não é exatamente isso que me incomoda e sim quando seus mandos e desmandos passa para vida pessoal, como se o fato de ser o sensei lhe desse total e completa autorização à todo conhecimento disponível no universo. Lendo o blog do Pinto Karate Dojo, vi um texto do Tiago Frosi chamado "Obediência cega ao sensei" que ajuda a esclarecer muita coisa, citando a antropóloga Ruth Benedict e seu livro "O Crisântemos e a Espada". Um trecho chama a atenção que transcrevo aqui: "...os estudantes prestam total obediência e lealdade ao professor, estão honrando assim a dívida que contraíram do Sensei. Por sua vez, o professor age com muita cordialidade e centramento, honrando assim a dedicação de seus estudantes ou subordinados. há uma exceção, quando o professor ou chefe age com rispidez ou violência, ou outro comportamento amoral que denigra a integridade (física, moral ou psicológica) de seus subordinados, estes estão livres de seu compromisso e, culturalmente, autorizados à vingança para honrar a dívida que tem com o próprio nome”. O texto completo é muito bom e vale a pena dar uma lida.
Importa saber que é preciso ter respeito e reconhecer o seu sensei como alguém importante. Que além da técnica ele tenha caráter, pois como escreveu Anotele France, "Sem caráter, nada vale o espírito".

O-sensei Mohirei Ueshiba

quinta-feira, 3 de março de 2011

Só uma noite...

Uma noite só, nada mais. Não vai ser preciso desarrumar a mala, nem guardar as roupas como de costume. A cama vai ser usada só uma vez, por mim, outros virão amanhã mesmo. Um único banho quente. Os canais da TV por uma noite. É o lugar de sempre, onde já estou acostumado a chegar, a falar com com as pessoas, a ser tratado pelo primeiro nome. Já faz uns bons anos que é assim. Estranha sensação, não vai dar tempo de enjoar, nem de reclamar da saudade de casa, mas também não haverá conversas antes de subir pro quarto... nada, só chegada e despedida.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sobre família

Não lembro de todos os detalhes da minha infância, mas descobri que ainda tenho muitos na cachola. Constatei isso devido a um livro que meu tio Zé escreveu, A serra e o rio. Acho que sou muito sortudo de ter um tio que registrou várias histórias dele e da minha família. É um prazer enorme ler boas histórias e conhecer, pessoalmente, muitos dos personagens. Tenho uma família grande e por muitos anos nos encontrávamos (e ainda continuamos) na casa dos meus avós. São eles, avô e avó, 90 e 89 anos respectivamente, que fazem com que laços familiares se mantenham fortes. O que me deixa preocupado pois não sei como será depois deles. Onde serão reforçados esses laços? Eu por muito tempo dizia que família era pai, mãe e irmãos, somente. Eu estava errado, existem mais que isso. Hoje me considero com sorte de também ter minhas histórias de família, avó, avô, tios, tias, primos, primas de vários graus, irmã, pai e mãe, que com seus defeitos e virtudes me enchem de orgulho e saudade.

Vó, Vô e irmã (num desses anos atrás)